Eu nunca odiei o Jair Bolsonaro
Tenho que fazer uma revelação forte. Pra quem me conhece, sabe que eu sou provavelmente uma das pessoas mais “Faz o L” que existe. Nunca faria uma tatuagem em mim. Se um dia fizesse, seria da cara do Lula. Apenas. Tamanho o respeito que eu tenho por um dois maiores políticos da atualidade. Apesar disso, não odeio o Jair Bolsonaro. Falo pessoalmente. Como político? Incompetente. Mas não tenho nada contra o Jair. Tive raiva do JB na pandemia quando ele falou na gripezinha. Aquele dia eu queria quebrar minha televisão, mas tirando isso nunca tive muito contra ele. Inclusive sentaria pra tomar uma cerveja com o Bolsonaro. Então por qual motivo eu sempre me coloquei tanto contra o governo dele? Por que eu chateava meus amigos com isso o tempo inteiro? Por que meu canal no YouTube virou o que virou e hoje tenho todos meus vídeos privados?
A verdade é que eu não gostava de uma parte bem específica dos bolsonaristas. Os que seguiam Olavo de Carvalho a unhas e dentes. Vejam bem, nem estou aqui tentando demonizar o defunto, mas ele poderia ter virado uma figura muito mais perigosa do que virou. Na época do começo da pandemia, quando ainda estava em Lisboa estudando pro Mestrado, comecei a ver vídeos do Olavo de Carvalho. Comecei a perceber uma similaridade muito grande entre o discurso dele e alguns discursos do governo. Paralelamente, comecei a ler mais sobre a história do nazismo na Alemanha.
Muita gente que não sabe o contexto histórico, acha que esse movimento simplesmente surgiu na base da força na Alemanha. Enganam-se aqueles que pensam isso. Foi um movimento que começou por baixo. Foi ganhando espaço aos poucos. Se juntando ao Estado e cada vez se fortalecendo mais. Não obstante, muitos dos seguidores do Olavo, nessa época, citavam o movimento nazista em diversas comparações. Existia uma fixação excessiva por parte de alguns seguidores. Não por acaso também, tivemos o caso de um secretário da cultura que emulou uma cena do movimento. Tudo se conecta. Nada é por acaso.
Vendo tudo isso acontecer, resolvi ler o livro escrito pelo Olavo. Talvez eu tenha sido uma das poucas pessoas de esquerda que tentou ler qualquer coisa do Olavo. Foi então que decidi ler parte do livro “O Jardim das Aflições” que, segundo alguns dos seus alunos, era uma das suas obras primas. Uma das “teses” do livro é que seria possível usar sistemas eletrônicos para fazer uma hipnose coletiva. Em termos gerais é isso. Veja bem, eu sei lá se hipnose tem comprovação científica, mas o fato é que o cara sabia que na história, sistemas de comunicação de massa já haviam sido utilizados para demonizar os “inimigos”. E eu via um paralelo muito grande entre o que aconteceu na Alemanha e o que poderia vir a acontecer no Brasil. Alguns dirão que eu sou exagerado. Outros dirão que tenho pensamento acelerado e que vejo coisas onde não existe. A verdade é que sou extremamente seguro e confiante de que algo de ruim poderia acontecer com o Brasil.
Obviamente que eu não iria deixar de fazer algo. Era difícil de explicar para os amigos o porque fazia o que fazia. Muitos pensaram que eu tinha enlouquecido. Cheguei a ver algumas pessoas próximas rirem da minha cara. Obviamente nunca fiz questão de explicar, até porque qualquer explicação iria piorar qualquer coisa que já pensassem. Então, por que me importar?
Tudo se encaixava. Inclusive as teorias da conspiração excessivas estavam presentes dentro do movimento olavista. Pra quem duvidar, pesquise por um vídeo do canal“La gata de Schoredinger” no qual ela entrevista um ex-neonazi falando sobre a Teoria da Terra oca.
Como vencer esse inimigo nessa guerra cultural? Bom, eu me juntei com um pessoal da Internet e passamos ao longo de mais de ano combatendo as bobagens. Um conjunto de canais fazia isso. Alguns com viés político. Outros apenas na defesa da ciência. Eu nunca fui uma pessoas que achasse que precisasse defender a ciência. Ela se defende por si só. Meu viés foi sempre político. Só comecei a combater a Terra Plana, a ideia de que o 5G estava causando câncer e outras coisas absurdas porque sabia que um conjunto de ideias assim na cabeça de uma pessoa poderia a lobotomizar e a transformar em massa de manobra pra coisas muito piores. Novamente, exagerado? Foi assim que foi lá na década de 40. A maioria das pessoas não tinha plena ideia do que se passava.
Pois bem, eu no meu estilo sempre afrontoso, marcava no YouTube os canais. Como assim? Existe uma ferramenta no YouTube que notifica outro youtuber quando você marca ele numa publicação. Eu fazia isso direto. Falava do Olavo de Carvalho? Marcava ele. Falei do Nando Moura? Marcava ele. Marquei o Eduardo bananinha em diversas publicações.
Eu e uns amigos começamos a fazer um barulho na Internet. Tive um vídeo falando da Terra Plana que chegou em quase 100 mil pessoas depois do Jornal Nacional no qual o William Bonner falou que um dos membros do governo JB acreditava em tamanha bobagem. Vídeos de amigos desmentindo essas bobagens também chegaram em centenas de milhares de pessoas. Nós começamos a incomodar. Eu ia pro meio das lives dos olavistas e ficava lá incomodando. Dizendo que eram tudo burros. Na live dos caras. Tentando trazer atenção das pessoas e mostrar que elas estavam sendo iludidas em muitas vezes. Sempre com o objetivo de não deixar as pessoas caírem em teorias da conspiração absurdas e que poderiam depois serem usadas para os transformar em pessoas que simplesmente deixaram de raciocinar. Uma pessoa que acredita que todos mentiram pra ela sobre o formato da Terra é uma pessoa que tem que acreditar que o “sistema” mente sobre tudo o tempo inteiro. Não saber diferenciar o simples fato do formato da Terra (que já é conhecido há milhares de anos) é negar a realidade. E negar a realidade é um terreno fértil para o surgimento de movimentos perigosos.
E tenho que admitir, utilizei uma técnica bem útil nisso. Ridicularizar os caras. Fazer piada deles. Joguei o jogo deles. O Olavo sempre botava apelidos nas pessoas. E tem um motivo bom pra isso. Apelidos fazem rir. E a risada te conecta com quem está falando. E quando a pessoa falar, maior a chance de escutar. E eu utilizei a mesma estratégia contra eles. Tinha vídeo compartilhada no Telegram dos caras? Eu ia lá e analisava se era tão danoso a ponto de precisar ser refutado ou se eu deixava passar. Até porque eu não conseguia dar conta de tudo. Daí surgiu o apelido da Débora 5G Barbosa. E muitos outros. Ridicularizar essas pessoas que falavam apenas baboseiras.
A verdade é que isso consumiu um tempo grande da minha vida. Não me arrependo de ter feito, mas também não me orgulho. Infelizmente alguém tinha que fazer. Não dava pra deixar os caras simplesmente tomarem conta na base de sites de notícias falsas. De secretário que chamava gente pra investigar Ratanabá e outras coisas. Sim. O nível de gente tosca ao lado do Jair era esse. O Mário Frias chamou o inventor do ET Bilu pra reunião no palácio pra investigar a cidade perdida de Ratanabá. Existia gente MUITO, mas MUITO pior que o JB no desgoverno de Jair. E eu conhecia um por um.
Por isso, quando o Lula foi eleito eu cheguei a chorar. Não era nem porque era hora do “Jair, já ir embora” ou porque “apesar de você, amanhã há de ser um outro dia”. Essas músicas tornavam tudo mais poético. E nunca foi sequer pelo próprio Jair, era muito mais por diversas pessoas que estavam ao redor dele e que a maior parte da população que trabalha 8 horas por dia sequer sabia o nome.
Depois de passada a eleição, resolvi privar todos meus vídeos do YouTube. Parei de gravar. Exclui todos os Tik Toks. Lutei a guerra cultural do lado de vários aliados, mas agora pedi aposentadoria. Essas batalhas mentais me cansaram. Pra alguns, a fama e até cargos políticos. Pra mim, apenas a certeza de que ajudei a não deixar o país na mão de um Coletivo de Imbecis. E acreditem: o Jair nunca foi o a peça central desse coletivo.