Os liberais acreditam em "numerologia".
Olívia Carneiro, antigamente autointitulada de Olívia Sincera, fala sobre economia no seu Tik Tok. O currículo impressiona, mas ao espremer não parece sobrar muita coisa não.
Faz um tempo que tenho acompanhado alguns movimentos liberais nas redes sociais. O perfil da Olívia me chama muito a atenção. Ela se apresenta como economista pela USP e mestranda pela Universidade de Chicago. Algo invejável no Brasil. São poucos aqueles que conseguem tal nível de instrução. Entretanto, muitas pessoas parecem não ter adquirido ao longo das suas carreiras acadêmicas o melhor dela: o senso crítico.
Vejam esse vídeo curto de 50 segundos de Olívia no Tik Tok. Um recorte feito para se tornar viral.
Não vou julgar o fato de querer viralizar. Quem não quer se tornar famoso? Quem não quer aparecer e propagar seus ideias para mais pessoas?
O problema é quando isso vem a qualquer custo.
Vejam o vídeo anterior. Parece algo interessante. O que te pareceu numa primeira visão de alguém que só está deslizando entre vídeos aleatórios do Tik Tok? Uma análise técnica? Pois, para mim, num primeiro momento pareceu.
Com a força da ciência, as pessoas param pra prestar atenção quando algo se parece científico e inusitado. É o caso do Kim ser um deputado nota 9. Como sou Físico de formação, ou melhor, um “professorzinho de Ensino Médio” de Física de formação, achei interessante o fato de haver um índice que medisse algo relacionado à política.
Como não me contento com pouco, fui atrás. E irei provar para vocês que a suposta análise técnica não passa de numerologia.
As medidas faladas por Olívia nesse e em outros vídeos são feitas pelo site Ranking dos Políticos. Como eles se definem?
Uma iniciativa da sociedade civil que avalia senadores e deputados federais em exercício, classificando-os do melhor para o pior, de acordo com os critérios que estabelecemos: combate aos privilégios, desperdício e corrupção no poder público. Nossos critérios não privilegiam partidos ou pessoas, e sim ações. Esse projeto foi criado por pessoas comuns, sem ligação com nenhum partido político ou grupo de interesse.
Felizmente eles apresentam como eles determinam o índice de cada parlamentar.
Eu esperaria de uma ONG que eles tivessem critérios objetivos cuja interferência fosse mínima para elaborar um ranking de qualquer tipo que fosse. Mas assim não o é. Pelo menos eles não tem vergonha de admitir o que são. Pessoas que criaram um índice para avaliar as coisas SEGUNDO OS CRITÉRIOS ESTABELECIDOS POR ELES MESMOS. Portanto, o índice não indicará algo objetivo senão um ranking daqueles políticos que estão mais de acordo com aquilo que eles imaginam ser necessário para o desenvolvimento do país.
Segundo informações do site eles utilizam a seguinte fórmula, que nada mais é que uma soma de critérios.
[(AP x 3)+(AD / 3)/4] + AC + OT = Nota Final
AP = Antiprivilégio
AD = Antidesperdício
AC = Anticorrupção
OT = Outros
Cabe ressaltar que a AP, por exemplo, leva em consideração a posição dos parlamentares em cada uma das principais votações. Quem define quais são as principais? Eles mesmos. Mas esse nem é o problema. O maior problema é que o conselho do Ranking dos Políticos define o que vai ser um escore alto e o que vai ser um escore baixo em uma determinada votação. Um conselho faz essa decisão. Quem faz parte do Conselho?
Esses e mais outros 20 pessoas fazem parte desse Conselho. Fica claro o viés dos membros simplesmente pela apresentação deles. Então uma parte do Ranking é definido pelos critérios SUBJETIVOS referentes às votações do conselho daquilo que eles acreditam ser passível de uma grande pontuação. Uma das três parcelas do Ranking é definido assim.
Não fica claro sequer se há uma votação de todos os membros em cada uma das pautas para que democraticamente nesse “seleto grupo” a voz da maioria seja a voz do Conselho. Isso não fica explícito na aba metodologia.
A parcela AD, por exemplo, conta como uma parte menos significativa já que está dividida por 4 na equação. Mas esse é o fator mais objetivo entre os dois. Não que eu acredite que possa se avaliar o quanto um Deputado é bom apenas por o quanto o gabinete dele deixa de gastar com assessores, mas que esse é um critério objetivo, isso não podemos negar.
Ainda há outro termo da equação que é mais periclitante. O termo “Outros”. Quer dizer, aí eles não tem nem vergonha de dizer que vão dar uns pontinhos a mais pra quem eles estiverem de acordo? Aí não nem a proximidade de algo objetivo.
Dessa maneira, podemos perceber que de objetivo e científico esse Ranking não mede absolutamente nada. As pessoas adoram números, principalmente quando não os entendem. Os números dão uma roupagem bonita à qualquer coisa. Eu como um “professorzinho de Ensino Médio” adoro recomendar esse livro aqui:
Em tempos de poder científico, fazer algo que pareça ser objetivo pode ser usado para manipular as pessoas. Não estou de maneira nenhuma dizendo que esse é o objetivo da ONG, mas alguém mal intencionado pode fazê-lo.
O pior ainda é alguém bem intencionado, como é o caso de Olívia, pode acabar por fazê-lo de maneira não intencional. Fazer vídeos que “viralizam” no Tik Tok e que em 45 segundos parecem mostrar de maneira inequívoca que um determinado político é bom por critérios somente objetivos.
Mas não podemos esperar muito de quem não vai atrás numa pesquisa mais profunda antes de fazer uma live e recortes pro Tik Tok falando de um determinado Ranking. Infelizmente essa é a mesma turma que acredita no “Índice de Liberdade Econômica” da Herietage. Mas isso é uma conversa pra outra hora.
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Se não fizerem o PIX eu vou criar o meu próprio Ranking dos Políticos onde darei nota 10 para os políticos do PT, PSOL e PCdoB e 0 pro Kim Kataguri.
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O Legisla Brasil lançou recentemente um índice para avaliação dos parlamentares.
Um bom índice, com critérios objetivos, é um grande desafio.